quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Estava tudo escuro, existia uma breve ausência de som reconfortante, não era completamente silencioso, os sons das bolhas de ar subindo eram rítmicas, passavam pelo corpo, como se viessem de outro lugar que não de mim. Eu via formas claramente mutáveis, alucinantes e de diversas cores, mesmo no escuro elas se destacavam, o corpo se movimentava de forma leve, não havia força gravitacional que permitisse movimentos mais bruscos, o corpo naquele ambiente ficava mais pesado e flutuante, não se respirava tão facilmente pelo nariz, a boca sugava o ar e o devolvia para o lugar de onde sugava, inquietante movimento, não era involuntário como o vômito, se faz por necessidade de sobrevivência, naquele ambiente a lembrança de que se é humano era gritante, o ar pela boca logo necessário se fez automático, como que quando em superfície se respira, o frio também se fez assustador, eram correntes leves e profundas, geladas em demasia, ainda escutava o barulho das bolhas de ar, o som delas estavam mais baixos, não mais as sintia no corpo, apenas o barulho distante, não sei ha quanto tempo estava lá. Tudo estava confuso e meus olhos tremiam toda a imagem que eu vira, elas se multiplicava, em dois.. três ou mais.. nada era nítido, lembrei de já ter lido algo sobre isso, era uma espécie de devaneio, e me acalmei ao saber que de fato era normal ocorrer em grandes profundidades, sob pressão, lembro ainda da inquietação do desejo de seguir o som das bolhas que se afastavam, mas a falta de nitidez era absurda, os olhos confundiam a visão... procurei e não encontrei a corda para subir, o movimento estava rápido e involuntário, não ouve pausa, me entreguei completamente aquela sensação.. como se eu fosse apenas um corpo livre..era tão intenso quanto as sensações que eu tinha quando voava nos sonhos... minhas veias... senti elas pulsarem de forma anormal, descontroladas, o sangue parecia ter dificuldade para fazer o que sempre foi de costume... parecia que se rompiam e tomavam espaços que a elas não pertenciam, a exagerada pulsação era desconfortante, mas eu já estava subindo a escuridão estava aos poucos se desfazendo, senti tonturas e o corpo fraco, eu já estava perto de chegar a superfície, isso me confortava, eu via flechas de luzes, o corpo estava mais pesado e contrariando qualquer lógica ou ciência eu continuava a subir e a luz gradativamente aumentava. Quando cheguei a superfície a sensação bruscamente se inverteu, não havia movimento, meu corpo boiava parte submerso pela água, parte na superfície, eu estava virada de bruços, e não conseguia me mexer.. comecei a ouvir vozes.. e mais vozes.. havia uma seriedade desconfortante, falavam em voz alta mas o som estava distante, o silêncio foi rompido.. eu ouvia vozes.. não parecia haver sentido, não era comigo que falavam, eu desejava apenas o silêncio, as bolhas e o escuro confortante..mas as vozes ecoavam, consergui por fim ouvir com nitidez quatro palavras, eram sérias, doença descompressiva - câmera hiperbárica.
Finalmente acordei, o sonho trazia o pesadelo e a realidade de forma inseparável e sobretudo a angústia de lembrar os detalhes, quase pronto para levantar, ainda de olhos fechados, me veio como de costume, toda a sequencia a qual eu faria quando levantesse, a roupa do mergulho, o equipamento, a corda, a máscara, nadadeiras, após organizar mentalmente a sequência, abri os olhos, não conseguia me mexer, luzes encadianvam meus olhos, eu estava em um tubo completamente vedado, não fazia idéia por quanto tempo, me desesperei, talvez estivesse aqui por dias, meses, anos, o tempo não me parecia importante, o ar era comprimido, queria tocar a face, sentir o rosto, os braços, impossível, não consegui, era inútil, as luzes encandiavam, não havia espaço, fechei os olhos, tentei não pensar em mais nada, e depois de algum tempo, não sei ao certo quanto, comecei a ouvir novamente o som das bolhas de ar subindo rítmicas.

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